el sonido de los bermudas

21 março 2007

Preito ao triângulo


Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito, mas outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza. Que a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante. Porque metade de mim é partida, a outra metade é saudade. Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor. Apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos. Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo. Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço. Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que penso, a outra metade um vulcão. Que o medo da solidão se afaste. E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância. Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei. Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito. E que o seu silêncio me fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo, a outra metade é cansaço. Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela mesma não saiba. E que ninguém a tente complicar, pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer. Que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor e a outra metade também.

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