el sonido de los bermudas

29 novembro 2006

Na primeira noite eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim,
e não dizemos nada.

Na segunda noite já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.

Até que um dia o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada
já não podemos dizer mais nada.

Mayakovski

28 novembro 2006

Perguntaram ao Dalai Lama...

"O que mais te surpreende na humanidade?"

E ele respondeu:

"Os homens...Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro.
E vivem como se nunca fossem morrer...
...e morrem como se nunca tivessem vivido"

24 novembro 2006

alguns velhos paradigmas modernos -

...é óbvio mas não custa falar:

->Cadeias e repressão policial NÃO diminuem a criminalidade. Criminalidade alta é reflexo de baixa oferta de trabalho + exclusão social. Se mata um, nascem 3. Prende um lider sobe outro pior.

->Juro = dinheiro recebido por um credor em troca de NADA, nenhum trabalho, esforço, barganha, nada. Ferramenta da desigualdade, dá um tapa forte na balança social... É literalmente multiplicaçao espontanea de dinheiro. só pra quem ja tem. Uma coisa normal...

->Existe salário mínimo (que, no Brasil é menos que mínimo), e pq não existe salário máximo?! Gente recebendo 40, 50 salários mínimos para ficar numa sala com ar condicionado e frigobar, assinando papéis e para comparecer a eventos chiques. O deputado tem trabalho mais importante ou árduo que o lavrador da terra? Possuem necessidades tão díspares quanto aponta a diferença de renda?? Ninguem vai negar benefícios logico, mas talvez pelo poder de uma lei..

->CPMF é para: Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira. Ainda bem que é provisório!

Estranhas forças ocultas parecem dominar o país...

18 novembro 2006

Parte 4 - A Guerra

Era uma tarde quente, abafada. Do tipo que você, sem fazer nada, fica todo suado. Na noite anterior o menino Davi não tinha conseguido dormir bem. Sentiu calafrios que, sabia, não eram vento, não eram do frio. Algo estava para acontecer naquela antiga cidade.
No dia anterior, o menino e Kasotoru haviam percorrido toda a cidade em busca de informações que lhes explicassem onde e, principalmente, em que época estavam.
O rei havia ordenado a construção de uma torre que alcançasse os céus e que, assim glorificasse seu nome. A obra havia se iniciado: usavam tijolos queimados e piche, os andaimes já ultrapassavam a altura de um eucalipto adulto e havia muitos trabalhadores, que vinham de todos os lados trazendo os materiais.
Os dois observavam de longe, no topo de um morro, aquele audacioso trabalho de engenharia quando uma voz masculina atrás deles declarou com autoridade:
-Eles são um só povo e falam só uma língua. Em breve, nada poderá impedir o que planejam fazer.
O maior susto, porém, foi ver a quem pertencia aquela voz.
Era um homem alto, forte. Olhos cintilantes quase encobertos pelo véu que usava em toda a cabeça. Dos ombros descia uma capa cor de abóbora esvoaçante e na mão esquerda...um cetro. Era ele. O mesmo homem com que se depararam dias atrás naquela mesma cidade, o qual parecia sempre desaparecer de vista.
Enquanto o menino, em estado catatônico mais uma vez, tentava controlar os arrepios e a gagueira ao perguntar quem era aquele homem, este se retirou para detrás de uns arbustos. Tinha sumido de novo.

Enquanto desciam reparam certo tumulto na cidade. As pessoas corriam para suas casas e tropas reais armadas com espadas e armaduras rudimentares corriam pela rua principal.
-Vocês!
Um soldado empunhava sua espada na altura do pescoço do menino.
-O rei quer vê-los.
Uma tropa os escoltou até o palácio real: Uma construção gigantesca com diversos patamares ornados de plantas exóticas, como jardins suspensos.
O rei era um homem forte de barbas compridas e estava em pé em sua sala real, vestido com uma armadura parruda e muito bem polida, cheia de ornamentos. Olhou para o menino rapidamente sem se impressionar, dirigindo seu olhar para o tigre e ali pousando-o, com sobressalto.
-Tive um sonho esta noite. Nele, a cidade estava para ser destruída por um inimigo vindo do oeste, com guerreiros capazes de esmagar um homem com os dedos ("nefilins" pensou o tigre). No entanto, a cidade foi salva por um guerreiro e um tigre. Salva-nos e seremos eternamente gratos!
Sem tempo para qualquer resposta, foram levados para fora da cidade, passando por vários regimentos de tropas acampadas até avistarem ao longe um acampamento diferente, de onde saiu um homem. Mas aquele estava longe de ser um homem comum.

Anoitecia e milhares de tochas se acendiam em volta do menino. Sua mente só pensava em como iria enfrentar aquele adversário. Se sentia preparado para tudo, mas aquele oponente...
Seus passos eram estrondosos e no mesmo ritmo outros soldados gritavam "Goliash! Goliash!"
E o gigante se aproximava....

continua..

Parte 3

- O que você busca, menino Davi? – pergunta o tigre após o lapso temporal que levou o menino e o tigre do monte Fuji, no Japão, para um templo silencioso e frio em algum lugar do oriente médio.
O
menino Davi completaria 7 anos dali a dois meses. A vida lhe havia apresentado muitos caminhos a se seguir, mas em nenhum ele se sentiria satisfeito.
Ainda estava pensando na resposta para a pergunta de Kasotoru, o tigre, quando a porta principal do templo se abriu fazendo um grunhido arrepiante. Pela fresta que se abriu, a luz de fora invadiu o interior do templo num feixe de luz que contornou a figura de uma pessoa, aparentemente mascarada, que refletia uma estranha luz abóbora e carregava um cetro na mão esquerda, a mão sinistra. Antes que o menino e o tigre, que permaneciam imersos na sombra, pudessem perguntar quem era o homem, este se retirou silenciosamente, fechando a porta.
Kasotoru percebeu os
pelos no pescoço e braços do menino se arrepiando, seus olhos quase ocidentais de tão abertos, alguns músculos faciais mostrando assombro. O templo todo agora estava escuro como antes. O menino sentia arrepios constantes e estranhas sensações brincando com seus sentidos.
-
Era ele, Kasotoru! Tenho que saber a verdade!
O
enorme tigre branco concordou com um sorriso sereno, arremessou o garoto na garupa e à galope saiu pela porta principal, dando de encontro à luz do sol que se refletiu no tigre de forma ofuscante e límpida, o vento quente envolvendo menino e tigre.

Quando o menino se deparou com a cidade a sua frente, se deu conta de onde estavam. Ali começou tudo, a região entre os rios, o Tigre e o Eufrates, a região que havia feito prosperar grandes civilizações passadas. O templo de onde saíram era um zigurate. Os antigos diziam que os homens construíam zigurates para terem seus nomes escritos no céu, ou domus celeste.
Ali encontrou duas aborrecentes chamadas Jiuh e Halaís, que tentaram vender para o menino vidros contendo neblina de antes do dilúvio. “charlatãs!” pensou o garoto. Depois de longas discussões, as meninas se convenceram que realmente estavam erradas e se converteram ao taoísmo, religião oriental que prega a humildade.
Quando se despediam das duas moças, um vulto negro perpassou o menino e o tigre num beco, mais uma vez saltando os pelos do corpo todo e fazendo a mente do menino Davi pirar em torno de si. No beco escuro da noite, avistam alguém com um manto abóbora dobrando a esquina...

Continua...

17 novembro 2006

Parte 2

Dia 1º de dezembro de 1991

O menino Davi agora tinha 5 anos. Segundo relatos, os pais do menino, Yo Han e Siokh, disseram-lhe:

"Filho, estás velho. Tua jornada deve começar." O muleque, que ainda brincava de taco aquático nas plantações de arroz com as crianças mais novas, consentiu com seus pais e barganhou uma passagem para Osaka, Japão. Então ele fez sua trouxa e partiu, com seu tigre e companheiro, Kasotoru, que segundo o povo conta até hoje, é um animal imortal que escolhe meninos ao nascerem para segui-los até a maturidade ideal (momento em que o espírito de um indivíduo alcança os conhecimentos superiores do amor e da bondade). Os dois embarcaram no barco do capitão Urishisu Sarudon, ou como alguns o chamavam, barba ruiva. Desceram o rio Saigon e em 4 horas atracavam no Japão. Kasotoru estivera no Japão séculos atrás e ficou assustado com toda aquela modernidade. No porto, uma moça alta e séria veio recebê-los.
"
Meu nome é Kakodaira! bem-vindos!"
Ao
ouvir o nome cacofônico da menina, o menino e o tigre deixaram escapar risinhos.
Kakodaira levou-os
por todo o país em algumas horas, até deixá-los no topo do monte Fuji para voltar ao seu trabalho. Depois de um beijinho de despedida que o deixou vermelho, o menino usou técnicas de construção que aprendera com certos pedreiros do vilarejo de Fwa-hul, onde pedreiros de todo o oriente compartilhavam suas esperiências. Com a ajuda de Kasotoru, escavaram uma pequena caverna que encontraram e logo se viram em um espaço fluido, com patamares jogados no espaço em harmonia entre si e conversando com o entorno, todos ornados por colunas neoclássicas, estalactites e alguns elementos representantes do insurgente estilo neopobre (a soleira-banco, para se observar o movimento na “rua”, um terraçolaje com os ferros dos pilares para fora possibilitando a construção de um puxadinho em cima - para assar uma carne ao som de Calypso, etc)
No
topo do monte Fuji conheceu muita gente interessante, até um neto bastardo de seu bisavô, um Italiano que vivia na Australia em uma cidade chamada San Bernard. Seu nome era Diegoos e ele dizia que viajava o mundo ensinando um novo esporte chamado “LeParkouru”, que na língua aborígene significava Lep=pulo Arkouru=Canguru: ou seja, pulo de canguru.
Conheceu tambem duas professoras
que por dois anos ensinaram-lhe muito da vida, não obtendo, no entanto, qualquer sucesso na área de cálculo. Jeh si e e Naht Ali eram duas moças paquistanesas que fugiram da sociedade machista e patriarcal de sua terra para se aventurarem no oriente distante.
Certo dia o menino Davi começou a se indagar que rumo sua jornada estava tomando e o que pretendia para seu futuro. E quando contou a Kasotoru o que tinha em mente, o grande tigre branco fez um movimento com uma pata no chão, onde se abriu um buraco como que para outra dimensão. Os dois se entreolharam e Kasotoru, curvando-se, disse: -Você primeiro, menino Davi.

Continua...