el sonido de los bermudas

17 setembro 2008

cão

Era um cachorro velho, mas ainda corria bem rápido quando uma das crianças o provocava. Sabia que seu esforço seria recompensado. E o riso das crianças era pra ele um alívio, porque os cachorros sentem, não sei como, se o clima está alegre ou alguma coisa não vai bem.
Seu dono era cada vez mais ausente, saía sempre de casa bem cedo e afagos pela manhã ficaram cada vez mais raros. Disputava a atenção das crianças com o playstation3, sem muito sucesso. A dona sempre o alimentava, mas nunca foi muito efusiva.
Aquele dia não estava nada diferente dos outros, senão por um detalhe. Iohan ao sair para o trabalho de manhã, tinha lhe olhado os olhos com ar triste e desanimado, lar
gando-lhe a mão na cabeça por algum tempo, dizendo-lhe algumas palavras que não conhecia. Estava desencantado com o mundo, era a impressão que dava. O cão acompanhou o dono até o portão e ali sentou, de guarda, pensativo: tom de voz triste.........carinho gostoso!.......olhar perdido..........carteiro atravessando a rua.........cheiro de torradas..........carente.........cachorro grande vindo.......xixi
E foi até o canto do quintal para demarcar seu território. Enquanto ainda erguia a pata traseira levou um susto. Achou ter visto um vulto se embrenhando no pomar...
crianças ainda na escola! era um invasor! Com as orelhas em riste, sentiu seu corpo se tonificar como ha tempos nao sentia, e correu cauteloso até a pitangueira, sentindo um estranho cheiro de queimado. Parou para observar e tentar ouvir algum movimento do intruso. Um barulho de folhas sendo pisadas atrás da videira! O cão soltou um latido grave e prolongado. Silêncio.....De repente um sussurro no ar o fez latir ainda mais forte. Um som agora irritante, agudo e doloroso nos seus ouvidos. sombras agora passeavam no pomar, um vento frio passou e o barulho, que começava a cessar...
Uma vez o cãozinho teve um sonho em que uma sombra falava com ele. Ela lhe contou segredos dos humanos: que eles não viam certas coisas e que não ouviam tudo também. Que os cães e outros animais podiam perceber coisas que os humanos levam uma vida para começa
rem a entender. Que os humanos sabem tanta coisa que não sabem o que fazer com isso.
Tudo se aquietou de novo no pomar. O cão estava cansado e seus ouvidos ainda doíam. andou até a varanda, onde deitou, permanecendo vigilante.
.........
Acordou com a perua que trazia as crianças da escola estacionando na frente da casa, do outro lado da rua. Tinha tido um sonho estranho! sombras correndo no pomar....Correu até o portão para receber as crianças. A Iris vinha como uma princesinha puxando sua mochila de
rodinhas. O pequeno Ivan estava sonolento, devia ter tido um dia cheio de brincadeiras e tirado uma boa soneca no caminho pra casa. Seu Caio, o motorista da perua, com dó de acordar o menino, tomou-o nos braços. A mãe vinha correndinha abrir o portão, com seu avental de bolinhas que sempre usava na cozinha.
O cão ouviu o motor do carro de Iohan virando a esquina. E agora ouvia mais um barulho: irritante, agudo e doloroso nos ouvidos. Era o mesmo som! Lembrou das sombras no pomar, não havia sido um sonho afinal! A mãe atravessou a rua para receber o filho no colo. Iris puxava seu avental, insistindo em mostrar-lhe uma borboleta que tinha feito com lantejoulas. Iohan avistou sua família, eram o que ele tinha de mais precioso. Ainda pensando nos três, seus olhos desviavam-se para um carro que vinha no outro sentido, ao longe mas em velocidade suficiente para o medo. Era uma perseguição
a plena luz do dia. Um sedan cinza dirigindo pergigosamente era seguido por uma viatura policial, as derrapagens deixavam um forte cheiro de queimado no ar. A sirene era cada vez mais irritante, ensurdecedora. Iohan viu a cena acontecer na sua cabeça. Ivan estava agora nos braços da mãe e Iris imitava uma borboleta para ela.
O cão também viu a cena. Teria que agir, porque ali estava a prova que os humanos não veem nem ouvem tudo. Correu como nunca na direção dos três e pulou. Iohan assistiu do seu carro sua família cair ao chão, o sedan cinza passando a menos de dez cm deles e o carro
da polícia frear bruscamente, virar, capotar 360° e voar por cima deles, girando no ar. Mas não viu o que o cão viu: Muitos vultos brancos aparecendo na hora em que ele pulava, levando ele, a mulher e as crianças um pouco mais longe, soltando-os no meio fio. Mais vultos abraçavam os policiais dentro do carro. Ainda não era a vez de nenhum deles.
Iohan Não entendia como era possível. Abraçou os quatro, regando-os de lágrimas.
Ajoelhado, fez um carinho especial no cãozinho, olhou para os seres celestes que sequer podia ver e agradeceu.
Um milagre!

6 comentários:

Kawale disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kawale disse...

profundo

mvmota disse...

família sortuda!

Davi disse...

nao dava pra nao salvar eles! mas eu sei que nao vai ser sempre assim neh

Davi disse...

caraca mto dahora essa musica!

Anônimo disse...

profundo [2]